Julho de 2003. Final de mês, e eu ainda aguardando o contato da empresa de call center para fazer o treinamento. Estava de férias da faculdade e nem pude viajar para a casa de meus pais, para não perder a esperada ligação.
Quando finalmente recebi a ligação… Que alívio! Enfim um emprego e sossego para concluir meu curso. Ingênua garota, mal sabia o que me aguardava!
Foi uma semana de treinamento, cerca de 4 horas por dia, com vale-transporte fornecido pela empresa e lanche diário. Mesa farta, com suco, café, refri, salgadinhos e quitandas. Parecia até que a comilança dizia: “aproveitem, comam agora, porque depois, com 15 minutos de intervalo, incluindo o tempo para usar o banheiro, sem falar nos altos preços da lanchonete e nas filas dos microondas, vocês não vão mais conseguir comer, hahahaha”. Juro que olhava para a comida e pensava isso.
Durante os treinamentos visitamos também todas as instalações da empresa, que é muito grande, por sinal, e ostenta tecnologia por todos os lados. Você olha para a cara dos outros treinandos e estão todos maravilhados, extasiados com o desenvolvimento do local e profundamente agradecidos por venderem sua mão-de-obra extremamente barata naquela empresa.
Eu via tudo aquilo com muita desconfiança. Entrava naqueles banheiros imaculados e do tamanho da minha casa inteira e pensava: provavelmente as coisas aqui não devem cheirar tão bem quanto o desinfetante que eles usam para limpar o local. Não acreditava que eles queriam tanto o bem do associado (sim, eles não falam funcionário nem empregado, é associado, embora não paguem participação nos lucros). Tudo me lembrava o taylorismo, e quando eu dizia isso para alguém, era chamada de comunista. Por favor, alguém explica para esse povo o que é comunismo? Com certeza, eles não sabem…
Quanto ao treinamento… Ia trabalhar no atendimento receptivo-ativo, vendendo créditos para celulares pré-pago pelo cartão de crédito. Aprendemos como utilizar os programas do sistema, as técnicas de vendas, e o que mais me chamou a atenção: que não devíamos utilizar o gerundismo, aquele crucificado vício de linguagem. Só estranhei o fato de a própria treinadora utilizar este vício o tempo todo.
Após o treinamento, fui toda feliz e contente fazer a minha carteira de trabalho, pois ainda não tinha. Agora, mais uma vez, precisava aguardar a ligação para assinar a papelada da contratação e começar a trabalhar.